domingo, 21 de dezembro de 2008

Legalizar ou não o progresso?

O Brasil segue uma tradição em que se espera analisar as conseqüências das medidas tomadas por outros países para então adotá-las. Poder-se-ia, pois, estudar a fio quando os Estados Unidos conseguiram, ao menos nessa questão, usar sua racionalidade em prol dos direitos humanos. Na década de 90, a potência estadunidense temia a intensa criminalidade anormal e inédita até então, os estudiosos mostravam-se desesperados e preconizavam o terror para os 5 anos seguintes. Para a surpresa geral, aconteceu o oposto: Queda de mais de 50% dos índices de violência meia década depois. As explicações foram várias: leis de controle de armas, estratégias políticas, maior policiamento. No entanto, o economista Steven D. Levitt,em seu livro freakonomics, descredibiliza todas as tentativas vãs de explicar o fenômeno,e responsabiliza o fato a Norma Mccorvery. Em 1973, ela lutou e foi vitoriosa na luta pela legalização do aborto. Ou seja, 20 anos depois dos anos 70, milhares de crianças indesejadas, que teriam vidas mais propensas ao crime, simplesmente não nasceram.

Segundo dados do Ministério da Saúde, no Brasil são 1,4 milhões de abortos clandestinos por ano; 250 mil mulheres são internadas no SUS por complicações ao abortarem; e 13 a 15% das mortes maternas são conseqüências delas; no Nordeste são 85.019 casos anuais de curetagens pós-aborto. Desconsiderar esses números é ignorar um pedido tão humano da população. Não há como supor a inexistência dessa problemática cheia de riscos. A penalização como delito da realização do aborto só põe em riscos maiores mulheres pobres e negras que não têm condições de fazê-lo em clínicas particulares mais seguras.

Legalizar o aborto não é considerar determinada parcela da população simplesmente inconveniente ao país, mas dar direito a outra parcela da sociedade, as mães vítimas do descaso governamental, o direito de não piorar, ainda mais, a condição de suas vidas. Uma educação eficiente seria a solução paras os problemas brasileiros. Medidas imediatistas como Bolsa Família e Bola Escola oferecem a melhoria agora, mas e quanto ao longo prazo? O desinteresse dos presidentes com a gestão de seus futuros suplentes prende o Brasil em um eterno ciclo conjuntural. A estrutura carente de mudanças permanece abandonada. Encarar a legalização do aborto como uma possível solução para a criminalidade exacerbada do país oferece uma esperança que vai de encontro a um governo reacionário. O Brasil mostra-se despreparado para mudanças fortes tal como é habituado a conviver com paliativos. Tratando-se do caso brasileiro, do hábito surgiu a tradição.

5 comentários:

bolalá disse...

Parabéns, você está ficando boa nisso. Este texto está ótimo. Claro, amparado em dados, além de ter um tema superpertinente.

Ah, concordo com você! Continue, please.

Beijo.

Brancaleone de Nórcia disse...

legalizar o aborto não é apenas permitir o assassinato de inocentes condenados pela culpa de irresponsáveis como também torná-lo moral. e é esta última parte que mais me assusta.

Beatriz Barros Braga disse...

Se não fosse a moral atual tão carregada de convencionalismos e crenças eu a respeitaria. Provalvemente é ela que influencia o modo de pensar que rege um mundo torto. Se estivermos preparados para grandes mudanças, enxergaremos outra moral que traria grandes benefícios. O problema é a corrente que nos prende em conceitos as vezes incoerentes.

Anônimo disse...

se a moral não é convenção nem crença então não é mais moral mas sim qualquer outra coisa. e se a moral influenciasse tanto esse mundo torto será que ele seria realmente torto? ele está assim justamente pela ausência da moral e ética.

conceito incoerente é, mediante a irreesponsabilidade dos pais, matar o filho para não 'atrapalhar' as suas vidas?

a mulher que abortar nunca mais deveria ter um filho. deveria ser esterilizada e aceitar essa pena, mais branda que homicídio.

Beatriz Barros Braga disse...

A moral existe e é ela que rege o mundo, cheia de suas crenças religiosas que prendem os seres humanos a conceitos pré-impostos. Claro que os homens fogem das regras em suas atitudes(São humanos afinal), mas essas convenções impedem a evolução do pensamento e da dialética. O que almejo é um mundo desacorrentado e capaz de julgar novos passos e soluções. Como por exemplo, será que abortar no primeiro mês é mesmo um assassinato? Recusando as santíssimas idéias, e valorizando o estudo científico, talvez seja possível encarar de outra forma.

E a falar da responsabilidade dos pais, que dirá dos casais que não tiverem oportunidade de instrução, por exemplo? Irresponsáveis são aqueles que não os olham como deveriam e negam soluções.