quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Uma jóia de terapeuta

São, agora, os dedos de amor que se movem. Por ela, a minha terapeuta. Ela tem fé convicta em Deus e reza por mim, relevando minhas convicções, todas as quintas-feiras sagradas na igreja; não passa um dia sem consultar os astros do signo para saber sua cor e planeta da vez; conhece a função de todos os nutrientes e alimentos pelas aulas semanais do globo repórter; faz juízo de valor de todos do elenco da novela das 8; tem um coração mole, um sorriso largo e nunca deixou alguém entrar na minha casa e sair sem notar sua simpatia, assim como não me deixa sair da cozinha sem estar afundada em uma paz interior.

- Você não é filha de Deus, Tânia - Digo, entrando no seu clima e me dando conta que, durante os 20 anos que nós convivemos, nunca conheci o seu mau humor.

- Ô nega, porque tu fala isso? Mau humor não faz ninguém feliz, nem eu nem quem ta perto de mim.

Todos os dias minha sessão terapêutica começa no café, e quando, por vezes, um mal-estar desses bem comuns aos meros mortais vem ao meu encontro, olho para ela e imagino a longa caminhada, o ônibus lotado e o etecetera que tem que enfrentar diariamente, mas só vejo a simpatia e uma tranqüilidade, eu diria, divina. Ouço suas notícias e visões de mundo, os poderes da laranja, do queijo, da banana e do inhame, os sonhos que a afrontaram na noite anterior, e, geralmente, nem consigo identificar as boas e ruins novidades, já que são todas cantadas num ritmo apaziguador. É como se criasse um escudo aos tempos ruins: uma alegria intocável. Uma tapa na cara na maioria por aí, que insiste em se considerar eterna vítima do mundo. Como me parecem tolos esses seres todas manhãs, quando peço emprestado o sorriso sincero de minha terapeuta e vou embora leve. Uma das melhores companhias e lições, eu diria, de todos os meus dias. Há 20 a mesma coisa e nem me dava conta, até descobrir que sou disso, dependente.

Tânia deus aos seus dois filhos melhor educação que a maioria dos que freqüentaram universidades, e nem faz idéia que o mundo provavelmente estaria a salvo se todos seguissem seus conselhos matinais. Falta de escolaridade e pobreza são os grandes agentes das mazelas da nossa sociedade, mas não justificam tudo. Pelo menos é o que mostra a mais eficiente professora que já tive. Como disse Saramago, dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos. Valor intacto, que cresce com a gente e nos faz escolher os caminhos. E, provavelmente, depende menos das lições escolares, do grau de educação ou dos livros que lemos e mais das jóias raras que encontramos na nossa vida.

- Porque você é um anjo. Respondo, dando um beijo no seu braço enquanto descasca uma cebola e nem chora.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Um delicioso peixe fora d´água

1968, a União Soviética invade a capital da Tchecoslováquia, no movimento conhecido como a Primavera de Praga. Em algum lugar da Paraíba, dois estudantes conversam:

- E essa invasão?

- Mesmo se a gente não entende, se foi a União Soviética, a gente aceita.

Essa estória que meu pai contava me lembra que estou sempre fugindo de limitações. Prefiro ser atéia e apartidária por ter a sensação de liberdade de se eu quiser, por exemplo, adorar, um dia, o passarinho que fez ninho na minha casa ou não crer em nada, e poder ouvir todas as propostas eleitorais sem preconceitos. Tenho receio de grupos fechados por observar certo individualismo coletivo: torna-se tão interessante e confortável olhar para os nossos ditos semelhantes, que o mundo de fora vira uma questão secundária. Enquanto que, para mim, existe uma deliciosa pretensão em sentir-se diferente. Foi preciso viajar para o ver o quão pequeno era o meu mundo. Primeiro foi o planeta multicolor, tão grande e tão complexo. Veio então a sensação verdadeira de que não conhecia nada, e a minha cidade, uma hora tão grande, surgiu como um pequeno ponto lá no Brasil. E depois foram as pessoas, inexistiam ali quaisquer semelhanças com minhas auto-definições. Eu nada sabia de mim e quem dirá dos que eu julgava distantes. Tornaram-se grandes e eternos amigos ou protagonistas de inesquecíveis conversas, pessoas que naquele ponto minúsculo passariam despercebidos, diferentes demais. É claro que me considerar fora de certos grupos já é, em síntese, pertencer a uma outra parcela. A forma de sentir-se livre destoa entre as mentes, e no meu âmago, foi a encontrada para me satisfazer. Nínguem, em seu interior, está livre das amarras repressoras e invisíveis do mundo que vivemos.

Afinidade não é nada mais que estado de espírito. Assim como o amor e todas as outras boas sensações da vida. As pessoas amam quando se abrem para isso. As relações não têm nada a ver com o gosto musical ou preferência de lugares para sair. A convivência e o começo delas talvez, mas tudo acaba dependendo da sua vontade interior e a necessidade de se abrir a novos ares. Identificação se amplia ao encontro de boas energias, a paz que alguém possa lhe oferecer e não ao conforto de visões restritas. Nem todos os seguidores de alguma ramificação são da mesma radicalidade do jovem paraibano do começo da história, mas atento apenas para a visão turva que por vezes nos oferecem os dogmatismos e as frases que começam por “eu sou” e precedem idéias que podem, com o maior dos direitos, não convir amanhã.

- Hoje sigo apenas a democracia, seja de qualquer lado, se for contra a soberania popular estou fora, se fizer a favor apóio. Diz, hoje em dia, o primeiro dos jovens lá de cima.

De uma estimada sabedoria os cabelos brancos devem gozar.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

A Classe dos Ais.

Ai por tudo. Pelo dever, pelo direito, pelo homem, pela menina, pelo elevador, por mero costume. Além de média, nossa classe é dos Ais. Faça um exercício e você nunca vai ser o mesmo: Conte amanhã todos os Ais do dia, à noite procure um tylenol ou heike. Foi o que aconteceu comigo sexta feira passada.

O Ai está em toda a parte, toda conversa. Quanto mais se tem nessa vida, mais se reclama. Dou luz a minha rotina, saio por aí e ele está sempre me perseguindo. Implícito ou à mostra em sua frase padrão: O Ai que saco. No dia em questão, atentei para sua presença inflamada logo de manhã no salão de beleza: foco central de pessoas que, se estão lá às 11horas da matina, é porque não tem muita coisa estressante pra fazer, né? Talvez não, mas poupem-me dos Ais, faz favor. Poderia enumerar 1000 com mais graves ais. Depois de perceber que os Ais estavam com a gota, continuo a jornada, pensando nisso. Tinha sempre alguém para reclamar: da cadeira, dos planos, do calor, da aula. Parecia feira: tem ai pra tudo e todos! Infundo-me em um mal-humor profundo, visto meu Ai: que saco, o povo só faz reclamar. Eis que surge, em sintonia no meu dia, a surpresa na segunda aula, a revanche da minha indignação: uma palestra dos integrantes da Fazenda da Esperança, um retiro no qual jovens de dependência química se isolam na intenção de se curar. Nada de Ais. Através de relatos emocionantes, falaram suas trágicas histórias, drogas, mortes, roubo, miséria, família desestruturada. Mas, cadê os ais? Um banho de água fria em todos os que se postavam sentados e admirados pela força e, inconscientemente, alegria com a qual se falava da vida ali na frente. Quanta diferença gritante. Eles tinham todos os motivos para passar o dia reclamando de uma tal energia divina que os deu aquela vida, mas havia uma inversão grotesca: são os de barriga cheia que mais encontram Ais. É um costume terrível do nosso mundo fechado.

Tem Ai que é necessário. Mas falo dos sem propósito, dos que somos fiéis seguidores por hábito, daqueles com cor ambiente, que se infiltram amenos no desenrolar da conversa. Se reclama da vida, de quem está perto e daquele que passa ali, com roupa e atitude suficiente para ser “incomodável”, até os seres distantes e desconhecidos merecem lotes de ais. Saio da palestra, volto à realidade, olhos inchados, peito amargo: a vida pode ser injusta, mas mais ainda aqueles que falam dela. Em meio aos Ais por conta do transito, da noite, dela, dele, do tempo, lembro do menino de 17 anos da palestra mais de tarde, não estudou, nem viveu muitos anos, mas sabe mais do mundo que qualquer um ao meu redor. O jeito é desviar, quebrar o efeito dominó,destruir nossa síndrome de Ais, não responder, sem absorver, quem sabe retribuir um “relaxa”. E assim, à todos os ais do nosso dia a dia, um “ai que bom.”

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Fadiga de amor barato

Olhou para cima, contemplou a escuridão do céu, para baixo, as luzes da cidade. Ouviu o barulho do trinco da porta. Como desejou estar errada, por ela, permaneceria em companhia de sua doce solidão. Fechou os olhos para não render-se à rotina. Não queria mover-se para traz e encontrar a fadiga de seu relacionamento.

- Boa noite querida.

“Como ele pode ainda me amar tanto...”.

- Boa noite, Jorge. Disse ela levantando-se da cadeira da varanda e observando o marido cansado depois de um dia de labuta.

“Esperando-me para jantar juntos, ela gosta tanto de mim...”

- Fiquei preso no trabalho até mais tarde, reunião com o diretor de logística.

“Será que ela percebeu o perfume diferente? A camisa amassada?”

Letícia serviu o jantar e lembrou-se das promessas feitas sete anos antes. Comeriam sempre juntos, dormiriam sempre virados um para outro, seriam sempre leais, teriam três lindos filhos... Como pareciam tolos, os votos, um dia, regados pelo amor.

“Amor?” Olhou os olhos baixos à sua frente sob as lentes de vidro de uns óculos fora de moda. A camisa de botões azul piscina amassada. “Quem usa uma roupa dessas para trabalhar só não pode ter vaidade nenhuma, ele nem passou antes de ir, porque tem que depender de mim para tudo?” A moça jovem de cabelos louros e pele branca neve não lembrava a última vez que enrubesceu de paixão. Sentia falta da adrenalina, do coração cheio ao beijá-lo. Sua vida não tinha alcançado às perspectivas que sonhara, prometera morrer de paixão, morria, agora, de tédio.

- Como foi seu dia? Aaah, quase ia me esquecendo...

“Dou ou não o presente que comprei? Será que ela vai notar algo estranho? Presentes são sempre assim: vêem depois de alguma besteira”

Letícia, afundada em seus pensamentos, nem notava que o marido falava com ela. Só voltou à realidade do apartamento 602 quando ele voltou com um pequeno embrulho vermelho.

- O que é isso, Jorge?

- Fui almoçar no shopping, passei em frente aquela loja que você gosta e quis te fazer um agrado.

“Comprar o presente da sua mãe no último Natal lá, não quer dizer que eu adore a Loja. Vamos Letícia, tente. Ele te ama, onde vai encontrar um homem assim? Que trabalha até as 22horas, traz presentes e te ama incondicionalmente”

Ela fingiu um lindo sorriso, ele fingiu a calma.

“Ela gostou! Mulheres e caprichos sempre se dão bem, por hoje, me safei. Como o sorriso dela é bonito. Ela está feliz. Está bonita hoje. Letícia sempre foi esperta, com certeza notou algo estranho, não posso mais vacilar”

Muitos homens haviam passado pela sua vida tais como brisa leve, sem serem notados. O coração de Letícia permanecia catatônico ao seu marido por muito tempo. Mas do nada, as incertezas visitaram-na à noite, brotando sonhos e fantasias com as oportunidades que perdera.

Porque sinto ódio dele? Ele me dá tudo que preciso.”

- Vou dormir, estou exausta.

“Preciso dar mais atenção a ela, ou vou acabar com meu casamento”

- Vou terminar de lavar a louça.

Jorge terminou seu trabalho na cozinha, foi ao quarto, trocou de roupa e deitou-se na cama. Observou Letícia de olhos fechados, virada de frente, com as duas palmas da mão se chocando na incumbência de acolher a parte esquerda da face.

“Parece um anjo. Amanhã vou dizer a Laura que não a quero mais como amante. Passo pela floricultura e compro orquídeas. Letícia ama orquídeas! Vou salvar meu casamento”

Ele deu um beijo na testa da mulher, que abriu os olhos e acompanhou o marido se aconchegar de bruços, seus olhos pareciam pesados de um dia na ativa, exibia um leve sorriso tranqüilo, como quem nem tão acordado, nem tão distante. Eles haviam se amado muito um dia, e durante todo esse tempo, eram simbiose de amor e fidelidade. Hoje, julgavam adivinhar os pensamentos um do outro, mas não sabiam, eram, de fato, meros desconhecidos.

“Amanhã peço divórcio”.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

O medo nos corrompe

Garanhus recebe, todos os anos, 10 dias intensos de quebra de monotonia. No último mês, eu os recebi. Foram esses o bastante para causar um choque de realidade na volta para casa. Foi, então, que percebi: O mundo se divide entre os habitantes de cidades grandes e de cidades pequenas. Um homem que uma vez faz parte do caos da efervescência da globalização, do asfalto cosmopolizado e da urgência dos grandes centros, para sempre terá uma metade hostilizada dentro de si. É muito possível que o ser humano possua em sua natureza, bondade e cumplicidade, mas o medo corrompe a nossa natural cordialidade.

No primeiro dia do Festival de Inverno, chegamos à ladeira cheia de casas simples e calmas, a nossa era a fonte barulhenta e abrigo de uma média de 30 pessoas sobreviventes a temporada. Como toda boa tradição de casa lotada, a água não vinha. Como toda boa sem-vergonhice jovial, a idéia de pedir um tempinho no chuveiro alheio veio pertinente. Encontramos, às 20h da noite, Dona Prazeres e sua filha simpática que nos cederam sua casa. E assim, das nossas necessidades, vários personagens desenharam histórias mais completas e peculiares ao longo da viagem. Nossa amizade com Gel, diminutivo de Maria de Jesus, uma garanhuense de 50 anos, foi a mais linda de todas. Primeiro dois de nós haviam entrado em seu lar para usar o banheiro e saíram de barriga cheia por conta de um almoço memorável, depois conhecemos sua fonte de renda: um bar humilde do qual viramos freqüentes assíduos. Como o banheiro do local era um canto da parede escondido por uma pequena cortina, ao lado da área onde sentávamos para tomar cerveja, Gel sempre oferecia sua casa às meninas, onde também ouvimos as histórias das suas filhas e da cidade. Os agrados dos moradores não acabavam: um outro homem que ao ver os visitantes no bar da amiga trouxe de sua casa um atraente sarapatel, além dos petiscos de graça, de mais banhos e conversas jogadas fora. O que me assustava todos os dias era a falta de hesitação que aquele povo tinha em nos ajudar. As relações que mantínhamos com a vizinhança seguiam um padrão: uma saudação cordial, um sorriso, um gesto com as mãos de “Pode entrar!”, uma conversa afiada e, por fim, um “volte sempre”. Ao comprar queijo numa vendinha próxima, um senhor me perguntou se eu estava naquela casa do samba corrente. Ao fazer que sim, ouvi os mais gentis elogios às pessoas que “faz amigo fácil” segundo ele. Nunca imaginaria que a casa onde às 5horas da matina a música ainda era alta, seria tão bem recebida por um senhorio tranqüilo. “Engraçado” Respondi. “O que mais se comenta lá em casa é o quanto o povo daqui é gentil e simpático, não fazia idéia o quanto isso me impressionaria”. Meu comentário sucedeu um sorriso homérico e a ingressada de outro cliente na conversa. Terminei minha compra com o coração completo de ouvir o quanto eles gostam dos recifenses, dos jovens, da simpatia e o quanto seremos, para sempre, bem vindos. Mal sabem eles, tudo que recebem é conseqüência da cordialidade sem fim que transmitem.

Voltando à cidade, parada no engarrafamento no fim da tarde, dois homens que andavam na rua começam a falar comigo. Surge, então, um diferente padrão de relacionamentos: Desconfiança, medo, alívio, vergonha. Os dois sujeitos procuravam me alarmar para um problema no meu carro. Claro que, presa às minhas inseguranças, havia arquitetado como escaparia do assalto. Sigo, rodeada pelas luzes urbanas, o corpo calmo, “não foi dessa vez”. Penso em Gel, sentada no banco de seu bar, nos bêbados do bairro cantarolando um samba forte, na garrafa de vinho comprada fora que levávamos para pôr em sua geladeira, na liberdade dos clientes, no rosto triste de Gel ao se despedir, no abraço asfixiador que um boêmio da região nos deu na última noite. Ouço o som da buzina, o farol está verde. Ai que saudade de Garanhuns.

Gel, sambinha e Zé Maria, o bêbado de sempre, em pé.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Vento amigo

Do meu quarto, agora, ouço os sons do casamento que vem da sala:

Música de final de filme, cheiro de cigarro, interruptores, chinelos, geladeira, lençol.

- Bel, acorde minha filha, o filme já acabou. Diz meu pai. A idéia de oficializar uma união pelo casamento, a meu ver, carece de liberdade. Receio da rotina, da estabilidade emocional, da falta de um pouco de solidão. Mas, estranhamente, perco esse foco aos poucos quando pequenas situações (e ai a inutilidade de chamar de pequenas) comovem meu lado mais frígido.

Hoje meus pais se apaixonaram de novo, ninguém viu, apenas eu e o vento. Amor é vento leve, intruso, ambiente, incolor.

Era um dia comum, televisão ligada, jornal na mesa, ela e Fernando Pessoa no sofá, ele com seu cigarro, futebol e Tv. Eis que surge o prefácio: uma conversa trivial. Ele começa a falar sobre uma queda homérica em uma pelada quando era jovem.E tudo começou: - E foi, Braga? Com aquela voz escolhida por ela pras frases empolgadas. De repente, vieram os gestos, os risos, a ligação, o interesse, a exaltação. Eis que aparece a testemunha, eu. Chamou-me a atenção a forma como se olhavam. Não é fácil enxergar alguém que enche seu campo visual 24 horas por dia, mas ali havia uma sintonia tão visível que a retina não criava obstáculos. Eram dois mutantes capazes de, de fato, se olharem. Então tudo se coloriu. O amor veio ao meu encontro dizendo que é rotina, dia-a-dia, algo a que a paixão não sobrevive. Amor é sutil, imprevisível, terno. Paixão é avassaladora, traduzível, forte. O ar da sala se encheu de uma energia positiva extasiante. Aos olhares que se cruzavam do amor barato e cumplicidade, havia o meu, de admiração e estranhamento. Como assim, depois de 29 anos grudados, ainda há estórias a se contar? Risos a serem causados? Atenção a ser dada? Foi aí que percebi que o amor se recicla, se renova e emancipa nos momentos banais. Meus pais se reapaixonam várias vezes e nem notam. A idéia de convenção estagnada que tempera o casamento se desvaneceu. Existe, ainda, a grande sacada do matrimônio: o amor que brota da rotina. Aquele que se vai é porque não foi entre esses seres dotados do poder bizarro de se entreolharem.

- Bem vindos amigos da Rede Globo... Falava certa voz desmancha-prazeres do lado esquerdo do cômodo.

Eu voltei a minha refeição. Ele ao seu esporte, cigarro, seu estádio, celular, jornal, meninos, trabalho, preocupação, estudo, inglês, empresa, idéia, livro, tela, piada, notícia. Ela às suas poesias, irmãs, família, jantar, basquete, sofá, emprego, zelo, fofoca, risada, telefone, despesa, comida, cachorro...

- Pai, como é mesmo aquela história daquela queda?

24/06/20009

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Alvedrio

Guiada pelas mãos de tinta de um jardineiro
Quero gozar da minha liberdade
Para os olhares covardes,atentos, passageiros
Trarei o amargo da minha leviandade

Ao alheio os votos castos
sem criatividade
Para dentro de mim
várias vidas vividas
Que leves em sintonia
levam pesos de felicidade

02/06/2009

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Fiel imperfeição

Havia um olhar
Cheirava a árvore, vida, luar
Corpo só, corpo lento, corpo ao vento
Havia um sorriso
Vagava leve, distante, distraído
Os olhos e a boca
Encaixe, caixe, colorido
Cheirava a filme, sofá, amar
Cantavam sonhos
Fiéis imperfeições
Amantes do destino
Vibrantes intenções
O glamour do conforto
A alma brinca
Com sonhos em contramão
Com um cheiro morno
Um abraço torto
Um sorriso bobo
Suspeitava da convenção
Terno, louco, contorno
Será eterno em liberdade
Na memória
Na não realidade
Na distância dura
Na verdade crua, raridade
Será eterno enquanto
Não ser, não ter
Será a presença incolor
No desencaixe casto
No sujo pudor
Na esperança negra
Não existirá senso
Suas falas de divã
Não terá acalento
Não será vã

26/05/2009

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Coração imitão

Sabe a flor
Sabe o dia
A palavra que ia e voltou?
O olhar admirado segue seu rastro
É de você que eu me lembro
Para meu acalento
Eu não penso em vão
Pra onde ela ia?
Diria? Faria?
Aos poucos o espelho
De um sorriso, fez-se a cria
Dói no meu peito
Enche meu seio
De tanto amor
É de você que eu me lembro
pura inspiração
É por você que funciona
A minha réplica de coração
Mulher,
Sua fala, é tão bela
Que me deixa perplexa
A todo vapor
Leve, livre, dentro
Levo comigo, o meu maior amor.

13/05/2009

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Você é o que você escuta

A meu ver, instrumentos tocam, mas, ontem, os vi dançarem.

Fazia tempo que todos os pêlos do meu corpo não se arrepiavam com tanta emoção quando vi as Crianças do Coque tocarem My Way de Frank Sinatra, no CINE PE. Nessas horas, me sinto tão boba: palavras não têm tanto poder quanto imagino ao ler um texto que aprecio. Mas a melodia sim, parece traduzir todas as intenções não verbalizadas, as crianças de ontem cantaram suas histórias, suas forças de vontade, suas alegrias e todos os seus talentos em uma música, sem dizer nenhuma palavra. E me parece que todo mundo entendeu o recado ao parar atento ao palco lançando olhares de orgulho e ao aplaudi-las de pé com tanta aprovação. Eu tinha ido pelo cinema, mas valeu mais por esse momento.

Músicas têm poderes desumanos. No filme Ensaio para a cegueira, em minha opinião, houve duas cenas que conseguiram repassar melhor que o livro a emoção da narrativa. Uma delas, bem simples, de alguns segundos, mas para mim, alguns dos segundos mais lindos que já vi no cinema: Todos os recém e primeiros cegos que ainda não se conheciam sentam no chão do ambiente estranho, enclausurados do mundo real, sem idéias do que está por vir, mas presos aos piores temores de suas vidas. Então, o velho de óculos escuros revela um rádiozinho modesto e põe uma música. Nessa hora, todos os estranhos, inconscientemente, são levados pela harmonia da transmissão meia-boca, sem se darem conta, deixam suas cabeças encostarem-se aos ombros alheios, seus pés seguem um ritmo em sintonia, os olhares se acalmam e os semblantes recebem, pela primeira vez, um toque relaxado. Talvez um dos únicos momentos de plena serenidade do filme, já em meio à tragédia, mas mesmo assim, segundos de paz. Que paz! Que poder tem uma melodia sobre os ouvidos humanos! Só a música, porque discurso de apaziguamento nenhum teria esse feitio, foi capaz de oferecer tranquilidade. Agora me ponho a pensar o quanto a vida das pessoas seriam diferentes se elas mudassem suas trilhas sonoras! Acredite na influencia do que você escuta. Pelo menos para mim, tenho os cd’s certos para me animarem e os certos para me fazerem chorar, e volta e meia eles me guiam à alguém que não deveria, ao baixo-astral quando me pegam de surpresa, às súbitas alegrias sem origem definida e, mais importante, às minhas melhores motivações.

Agora decido que todas as palavras ditas e guardadas na minha vida se vão, fico com o som das minhas trilhas sonoras.

Músicas têm cheiros. Palavras seriam, então, para os que não conseguem se expressar pelo olhar, pelo gesto, pela melodia? Seria, para mim, apesar de amá-las, tão mais fácil não ter que usá-las, se todas as minhas intenções fossem delas, independentes. O mundo inteiro não estaria mais em paz, se em vez de discussões intermináveis, uma música resolvesse o problema? Ao ouvir o cd de Zeca Baleiro posso sentir o aroma do meu uniforme escolar Apoio e dos bolos da minha casa devorados nas tardes em amigas, assim como legião urbana me traz certo perfume masculino à tona, Bob Dylan transpira os cigarros fumados no quarto do meu irmão mais velho, Pink Floyd o do meio, inalo minha mãe ao ouvir Chico Buarque e meu pai quando escuto “Essa rua”. Músicas existem para aguçar os sentidos e são os eternos fiéis diários e álbuns de fotos de nossas vidas.

terça-feira, 24 de março de 2009

Redescoberta

Naquele mesmo momento, inúmeras conversas se denserolavam, saberiam as pessoas as intenções daqueles a quem falavam? Ou os julgavam pelas pinturas superficiais sobre suas verdadeiras faces? Como são perfeitas as máscaras humanas: narizes, bocas, pele, sinal, voz, cabelo.

Ele a olhava bem fundos nos olhos:

- Você acredita mesmo nisso?

Para ele os seus argumentos eram frutos podres de alguma passagem ruim. Jurou que a encontraria além da retina, que o que se passava por fora seriam reflexos superficiais. O riso nas respostas dela surgiu para dar a pitada de descaso que faltava na suposta farsa de seus ideais:

- Eu faria um aborto.

Ela analisou seus repúdios e procurou adivinhar quando teria ele solidificado seus pensamentos, fazia pouco tempo e seria apenas uma fase, ou aquela conversa era a redundância de tantas outras? Teriam seus argumentos sido penetrados nas raízes fincadas de outras cabeças? Ao esbarrar nas falas e textos alheios atinou para o, talvez, grande problema da humanidade: O horizonte entre as intimidades. Vão e voltam os segredos, atira e recebe os olhares, são tantas e tantos, mas o que são? Provavelmente todas as marionetes que circulam, falam, dormem e, geralmente, acordam, devem desejar a mesma coisa, almejar à mesma utopia e serem presos aos mesmos devaneios. O problema está na má comunicação das, que por falta de um nome mais cético, devem se chamar almas. Dispomos-nos a confrontar, a julgar, e infinitos infinitivos temperados com dissabores que azedam a convivência e a estadia da humanidade. É do encontro dos extremos dos pensamentos que nascem as guerras e as raivas. Mas por quê? Dos desencontros podem surgir redescobertas. Todos os dias, nem notamos que, bêbados de sono, ousamos vestir fantasias integrais. Perdemos a capacidade do conhecimento real do outrem. Os caminhos são sempre diferentes, daí as idéias loucas que aparecem como antíteses das outras que, por suas vezes, são tampouco sãs. Mas no fundo, somos reféns da mesma obscura complexidade. E tontos, nem percebemos.

Meros tropeços podem se transformar em grandes encontros. Aquelas conversas simples com rostos já conhecidos escondem mundos vastos e carentes de exploração. E esses são estranhamente parecidos com o mundo que guardamos para nós mesmos, nas nossas mentes bizarras, que muitas vezes julgamos sós. Se olharmos bem, por trás dos acasos comuns existem verdades bem mais interessantes que a nossa rotina cega e repetitiva.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Janelas Solitárias

O sol nasce para todos, mas nem todos nascem para o sol. A essência da desigualdade está no modo distinto de seus relacionamentos com A grande estrela. Bate 30 graus, pedra sob pedra bate o pedreiro; afunda seu corpo no mar o amante, debruça-se entre o emaranhado congelado pelo ar condicionado o distante, só faz reclamar do calor quem anda de elevador, ta nem aí o circulante.

Nas férias o Sol vira pop star, todos viram os corpos pra ele e torram seus dinheiros para ficarem a sua mercê. Será a influência midiática impondo-nos a gastar no verão? Falo, porém, do Sol cotidiano. Aquele que a minha janela ostenta, mas sofre de um mal: indiferença. Não seria esse Sol o mesmo do mês passado? Será, realmente, a falta de tempo das vidas que voltaram a sua rotina? Ou na verdade, é a falta de vida que há na rotina? Os domingos de janeiro são cheios de alegria, os de fevereiro ranzinzam. Fomos acostumados a valorizar o que a televisão quer, mas e o verão constante dos nossos quintais cotidianos? Passam tais como as nuvens passageiras.

Escrevo-me, ao final de maio de 2008, em Montreal: “Fez sol, fizeram-se risos. Hoje, pela primeira vez, a senhora com quem espero o ônibus, todos os dias, a quem julgava ser a bruxa do bairro (pelas suas faces frígidas matinais diárias), doou-me um belo sorriso, um bom dia e ainda de quebra afirmou, meio me perguntando, o quanto bonita era aquela manhã!”. A partir dali, os parques ganharam vida, as ruas movimentos, os rostos colorimentos, os pedestres comprimentos, meus pés havaianas, a cidade festivais, e eu ganhei uma nova Montreal. A cidade se escondia debaixo da neve! Recebeu um quê enlouquecido nos quatro cantos, agora levantados pelos raios solares.

- Como sabem aproveitar o Sol, dizia eu. Não eram ainda férias, mas todos os dias ensolarados eram paisagens sorridentes, o silêncio chegava tarde, pois escurecia apenas aos arredores das 8 horas.

De volta ao Brasil, no país do calor, eu me encontrava com saudades do Sol canadense. No outro dia, apesar de ser agosto: céu azul, nuvens escolhidas a dedo, mas uma surpresa: parques vazios, praias e piscinas solitárias. Transporto-me para o Norte, aquela certeza de felicidade por uma janela sem cortinas.

Enfim, quando aprendemos a desvalorizar a dádiva que temos abundante? Em vez de ressaltar as seqüelas de uma sociedade errante, deveríamos, por hora, fazer companhia as janelas empoeiradas nas manhãs corridas de uma quarta-feira.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Luzes de consciência

Quando as luzes da consciência disfarçadas de raios solares acharam a fresta esquecida pela cortina, aquelas rugas matinais apareceram e os olhos se abriram. Como a ebriedade combina com a manhã! Há algo de misterioso na relatividade: não é o ambiente, as pessoas, o estado de espírito. Tudo depende da hora do dia. De noite não existe ressaca, a dor de cabeça é da vida e matinal. O cérebro de certo inchava e voltava ao normal na colaboração de uma conspiração social que a fazia não querer sair da cama, mas era preciso porque a luz começava a incomodar não apenas o seu bom-senso, mas também o calor que bate às 6 horas de um céu ensolarado. Levantou e se deparou com a única pessoa que não gostaria de ver.

- O que está fazendo aqui?

Não tinha respostas. Estava sempre rodeada de pessoas menos desagradáveis, e logo naquele dia se encontrava só e olhando para a única das quais não se sentia a vontade. Aqueles silêncios constrangedores e sinais de incomodo sempre apareciam quando elas se deparavam sem um terceiro para quebrar o clima ruim.

- Quantas vezes precisarei dizer o quanto lhe odeio?

Não se orgulhava da noite passada, das anteriores, e de uma vida toda. No entanto, quando chegava a noite, ao lado de outrem, estava bem. O seu problema era quando a inconveniente visita lhe aparecia de manhã. Engraçado que quando chega essa hora do dia, o mundo parece mais brando, porém as pessoas de ontem, em seus íntimos, continuam cruas e cruéis tal como a noite. Não se enganava pela leveza solar, julgava aquela a quem olhava como se soassem as 24 badaladas no relógio da sala.

- Por favor, desapareça!

Costumava fingir que ela própria não era ela, escolhia alguém a quem admirava e fingia ter a vida dessas para se confortar. Vivia de sonhos e imaginação para esquecer a injuria da mistura de vergonha e decepção que tinha consigo. Há muito deixara de ter pena de si mesma, passou a ter ódio. A raiva de não ser bem sucedida na vida, em todos os extremos. Era uma espécie de conforto não ser ela, mesmo que por poucos minutos, em seu mundo fantástico que tinha as beiras da cabeça, tinha dignidade e bem estar.

- Por favor, me deixe!

Perdera os vestígios de auto-estima nas humilhações que havia sofrido na adolescência. Hoje para os olhares desatentos do mundo passava indiferente, mas por dentro ainda era aquela frágil menina com o coração inundado de lagrimas. Julgavam-na fria e forte. Mas era a sutileza quebrada pelos ventos fortes da vida e a fraqueza erguida pelas mãos vis que lhe estenderam apenas pedras quando precisava de suporte. Toda noite encontrava consolo nas garrafas de vinho baratas e colecionava desgraças.

- Será que algum dia acordarei sem querer te matar?

Toda manhã era um processo doloroso o encontro com o espelho.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Serás por eles, por ti morrerás.

1944. A primavera acabara de chegar e naquele dia o sol raiava com a dor de luto de mais alguns judeus, deficientes e outros que haviam sido mortos enquanto a lua sangrava na noite anterior. Ele acordou, já havia tomado seu café e repassava as perguntas na cabeça. Fitava o espelho treinando as faces ameaçadoras, sua mão tremia e a caneta prata, guardada para dias especiais, perdia a tinta barata pelo suor excessivo de sua mão. Tornara-se jornalista há 3 anos, e conseguira um emprego num dos mais conceituados jornais há 12 meses. O trabalho, assim como a missão daquele dia, era mais um presente do diretor ao pai do rapaz. Para o jovem de óculos grandes, testa enrugada pela miopia e alguns cabelos brancos pelo estresse perfeccionista, que nada condizia com a lógica jornalística da época, a mídia era uma grande arma da força nazista. Era ariano e privilegiado, mas detestava todo o sistema violento e conturbado alemão. Havia sonhado com essa oportunidade e pretendia revelar todos os podres daquele a quem mais nutria ódio. Seria renomado, aplaudido e jamais esquecido por conta daquele dia que havia acabado de começar. Ouvira falar da habilidade de discussão e persuasão do entrevistado, mas não se deixaria levar, mesmo que todos os outros se vão nas ondas, ele iria contra a maré. A ditadura de seus pensamentos e idéias seria mais forte que a repressão de qualquer realidade.

Chegara ao escritório do Terceiro Reich da Alemanha. Um quadro mal pintado e inacabado, uma estante de livros, um ar escuro e ébrio inundava a saleta. Habituara-se a observar as testas, pelo desconforto da aparência de sua própria. A testa daquele homem, a quem passara a noite ensaiando palavras de afronta, tinha rugas de dores passadas, abaixo delas, quase que escondidos, os olhos transpiravam um sentimento mesclado. Conseguiu respirar raiva, muita raiva. Havia outro cheiro sem classificação, um quê hipnotizante, era impossível desprender daquele olhar enigmático, que o fazia balançar a caneta carente de anotações. Quando ousou revelar o começo de seu texto ensaiado, foi interrompido pela voz suave de Hitler, que falava de como saudosa era a cadeira que estava do lado da que se postava sentado. Era nela que costumava sentar seu querido antigo companheiro de trabalho, que jazia num importante cemitério germânico. O jovem rapaz pensava em como o velho poderoso julgava seu trono importante a ponto de cometer tantas atrocidades e ousou iniciar uma fala, mas não conseguiu terminar.

- Queira ter o prazer de sentar-se nessa tão prezada cadeira, disse Hitler.

E lhe estendeu a mão como num convite irrecusável para seu mundo, que num segundo tornou-se tão acolhedor. Quando se deu conta, o entrevistado havia mudado seu discurso para a importância do jornalismo e da sensação de privilegio que tinha de ter um representante de um grande jornal em seu gabinete.

O segundo aroma desconhecido de seu olhar revelou-se: carisma. Era como se para aquele homem, o corpo decadente e repulsivo tivesse sido escolha do destino, mas sua voz, seu olhar, o balançar de sua cabeça, e o dançar de suas mãos fossem bordados nas mãos de uma fina e linda mulher. O jornalista balbuciou o questionamento de alguns feitos do presidente, havia mudado o curso do interrogatório, sem saber muito o porquê. O algoz entrevistado falava da recente descoberta do colete salva-vidas, resultado da competência de seus homens e da utilidade de seus conhecimentos. O relato da entrevista ganhava corpo: omitira-se a parte de que as várias descobertas levavam bagagem de sangue e mortes de cobaias involuntárias. O jornalista ganhava alma: omitiram-se seus ideais, era ciente de todas as calamidades, mas as vestia de nacionalismo e amor pelo país. Aquele homem que de muitos choros se alimentara, sorria cordial, e ganhava aplausos em forma de letras. "Ora, se a Alemanha ariana o apoiava, muita certeza o povo deve ter." A tarde chegou ao fim e o principiante jornalista se viu no começo, entrara para o mundo real. Aquela tarde nunca, de fato, seria esquecida. Mesmo que para a Alemanha fosse apenas mais uma reportagem confortadora, para ele, o marco inicial de sua vida. Era, enfim, jornalista. Não poderiam estar mais orgulhosos o Reich e todos os outros governantes de uma nação.