segunda-feira, 19 de abril de 2010

Que saudade do domingo

Entre o corre-corre das pernas grandes, no meio da praça de alimentação, dá-se início ao show: uma criança faz do chão sujo seu parque de diversões, das luzes incandescentes, os holofotes, e todas as pessoas ao seu redor, o público. Nos adultos surgem, discretamente, sorrisos carinhosos. Percebi o que me atrai tanto numa criança: sua virgindade no quesito realidade. O olhar fantasioso delas brota, em mim, um enorme desejo de voltar no tempo.

A responsabilidade e a falta de tempo acabam com pessoas. Quando eu era pequena, o único encargo que tinha era almoçar com meus pais na mesa da cozinha. Tomada pelo desejo rebelde infantil, sempre tentava me livrar desse ofício. Porém, nunca me era concedida a regalia de fazer refeições ao mesmo tempo em que via TV na sala. Nos dias em que, por ventura, não acontecia o tal almoço familiar, enchia o prato e me deliciava por horas diante de algum programa divertido. Todo mundo reclamava que eu comia muito devagar, mas, para mim, era um exercício de liberdade.

Agora, meus almoços devem durar exatos 15 minutos, isto é, quando acontecem. E não existe mais a possibilidade de driblar as responsabilidades. Mas sempre faço questão de sentar-me, ligar a televisão e, nem que dê tempo apenas para os comerciais, desfrutar de meus míseros momentinhos de liberdade. Nos dias de alegria, quando, por acaso, surge tempo, demoro uma hora nesse ofício e puxo para os programas sem conteúdo que dão sopa essa hora da tarde... Ai como me cheira a infância.

Antes, o domingo era uma delícia: dia de ir à banca comprar “turma da Mônica”, sair com a família, assistir filmes todos juntos, sushi com namorado, de aprender a cozinhar, de café e cinema com as amigas. Eu amava o domingo. Agora, esse dia tão bom, virou o tempo que de fazer tudo que não deu durante os dias úteis, e todas as coisas gostosas de viver no tempo livre tem um pensamento como pior inimigo: “tenho tanta coisa pra fazer depois disso.” A responsabilidade deixa as pessoas mais chatas, isso eu já tinha idéia, mas tirarem meu domingo... Foi crueldade.

“Mãe, olha a bolsa do Ben 10 dele!” Sentada na sala de embarque, observo uma cena grandiosa ganhar palco: três crianças se conhecem, falam de seus amigos da escola e ficam íntimos dos brinquedos que a bolsa de um deles abrigava. Nem percebiam que, ao seu redor, uma platéia deliciada sorria quieta e nostalgicamente. Eu tentava lembrar a última vez que almoçara em casa.

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