
Ter verdadeiros amigos quer dizer, também, ter espelhos convictos. Quem um dia conquistou a sorte de tê-los será sempre prisioneiro de si mesmo. Há as pessoas a quem poderás enganar com um sorriso falso, um gesto mascarado. Mas, aos seus amigos, caberá a lídima responsabilidade de desvendar-te. Será o julgamento de quem um dia insurgiu nas profundezas da tua alma que ousará desafiar os gestos externados, sendo esses luz de fora, não a sombra de dentro.
Quando um dia, às margens de uma roda de conversa, ouvires sobre ti, como um espelho revela os mais inconvenientes defeitos da face, e não puderes negar, porque os que te falam te vêem mais que você próprio, estarás condenado à eterna confiança nas palavras que te cercam. E algo no fundo, salvo aos clichês das esferas públicas, te oferecerá uma pequena esperança de conforto: terás sempre alguém a olhar-te. E esse fato será sempre conseqüência de outro: terás sempre amor.
Quando não te falo dos meus mais fieis conceitos, não é pela ausência deles, é porque eles moram em mim e se julgam escancarados, se não te dou um abraço é por já ter te abraçado muito antes, se passo indiferente às tuas declarações é porque já cansei de repeti-las na minha cabeça. Pensei que tivesses sentido todo meu carinho e amor muito antes de ousares notar que não houvesse recebido. Meus amores vivem bem e seguros dentro de mim, e se acham desprovidos de responsabilidade social.
Se os professores delas ouvissem as conversas descompromissadas sobre energia e as voltas que mundo dá não seriam injustos como às vezes são, nenhum homem as trataria mal se vissem como interessantes são elas quando são quem realmente são num ambiente tranqüilo, nenhum conhecido de primeira viagem ousaria atropelar suas frases numa conversa comum se soubessem que nos longos diálogos surgem as mais estrambólicas idéias e os mais atrevidos instintos, todos os mendigos estenderiam-lhes a mão se soubessem da compaixão irremediável que possuem, assim como muitos não desafiariam atrapalhar seus caminhos, por terem noção do perigo que as envolve quando as testas franjem. E você as olharia calado com uma enorme admiração, que lhes baixaria os olhos e faria vir à mente: Que sorte eu tenho! Num dia comum, mesmo ao as ouvir falarem sobre seus defeitos, se fossem essas as suas amigas. Eu amo vocês!